Educação em Angola - Primeiros dados

Estas fotos de Huambo, uma provincia de Angola, que tem um Projeto da empresa em que estou atuando, nos oferece uma ideia da atual realidade da Educação no país.
Segundo dados do UNICEF, quase a metade das crianças Angolanas não vão à escola, (a Escola só é gratuita até os 8 anos de idade),  45 % sofrem de subnutrição crônica e um quarto das crianças morre antes de completar cinco anos.


Com a guerra mais da metade dos prédios escolares foram destruidos.
O Sistema Educacional é organizado em educação básica, secundária, média, profissional e superior.

67%  da população é de analfabetos

57% concluem os 4 primeiros anos de escolaridade

22% de reprovação

24% abandono

Esta realidade foi comprovada pelas entrevistas que fizemos aos trabalhores da construção civil. Muitos têm escolaridade comprovada, mas não sabem ler e escrever.

Quem conhece Magali????

Essa postagem é uma homenagem a minha amiga, companheira, colega de sonhos e realizações: SORAYA. É incrível como ela é boa de boca e come, por sorte não engorda. Ah imagine se eu ousasse fazer o mesmo, estaria uma balofinha!!!! A minha sorte é que estamos bastante disciplinada na caminhada, todos os dias, antes de qualquer outra atividade, damos algumas voltas no condomínio. Acabamos de chegar e depois do breve café da manhã, "Magali", comeu um considerável, pedaço de torta de chocolate com morango, que ganhou ontem na festa dos aniversariantes do mês, que teve tema baiano e serviu acarajé à vontade. Que saudade das nossas iguarias, que por esta terra são desconhecidas, pelos nativos, apesar de ter dendê em muitos dos seus pratos.

Um balanço...

À medida em que vou vivendo e vendo mais com os olhos do dia a dia, vou conhecendo aquilo que está além do aparente, do visível, do surpreendente. Só não sei se já é hora, ou se sou capaz de fazer um balanço coerente, mas algumas questões me chamam a atenção, dentre elas, a ação e reação de brasileiros que vivem como estrangeiros, em terra que parecem familiares... Quem são? Por que vivem aqui? O que buscam? Até onde vão? Para onde vão? E eu, onde me situo, neste contexto? A complexidade do mundo atual e dos homens e mulheres que vivem nele, não nos permitem chegar a conclusões simples, mas é possível perceber que há uma pressão que se acumula dia após dia.
Já sei que é uma experiência enriquecedora do ponto de vista humano (ponto!). Conhecer como é a vida deste outro lado do oceano, tem me ajudado a pôr em perspectiva muito do que antes dei como adquirido, conquistado. A todo momento é preciso exercitar o olhar relativo!!! São muitos os brasileiros que vivem aqui há muito tempo... suas lógicas são bem diferentes da minha! Por outro lado... O que dizer daqueles que aqui nasceram e sempre viveram?
Vivo questionando a todos que tenho acesso, que chegam junto... Mesmo assim, ainda não consigo imaginar como é um dia que seja de um angolano, muito menos uma vida inteira. As minhas necessidades são muito diferentes. Pequenas coisas para mim, são enormes para quase todas as pessoas com quem me cruzo pelas ruas. A falta de água e de luz são chateações, mas não posso me queixar porque não tenho água na torneira ou porque a luz desliga e liga em seguida, com um gerador! Tantos nunca tiveram àgua, nem luz em casa!!!!

"Oh! Mundo tão desigual

Tudo é tão desigual

Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!

Oh! De um lado esse carnaval

De outro a fome total

Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!..".

Quero sempre levar nos olhos e na alma...

Sim, quero levar nos olhos e na alma, a capacidade dos angolanos de dar a volta por cima, de reconstruir e acreditar em dias melhores, sempre!

Mais uma incrível!!!!

Quando pensávamos que já tinhamos descoberto tudo, vem mais uma situação nova que nos surpreende!!! Tem 3 dias que estamos correndo atrás de uma caixa de fósforo e não a encontramos. Um país, como Angola, importa todo e qualquer tipo de produto e muitas vezes eles somem dos supermercados e mercearias. Encontramos uma alma boa que nos deu uma caixa e, como não sabemos quando vamos encontrar outra, para comprar ou que receber em doação, estamos literalmente fazendo economia de palito!
Tudo... tudo mesmo, é motivo para ricas e novas aprendizagens, desde coisas tão simples e pouco significativas, até questões profundas e complexas!
Vamos que vamos! Sempre!

Saudade... saudade... saudade!!!!

"Mas voltou a saudade

É, pra ficar
Ai, eu encarei de frente
Ai, eu encarei de frente, menina
Se eu ficar na saudade
É, deixa estar
A saudade engole a gente
A saudade engole a gente, menina".

Pois é, a saudade hoje apertou... saudade do dia a dia, do corre corre, das segundas e quartas à noite, dos encontros, dos finais de semana, de não fazer nada, de escolher o que fazer, dos passeios com Dudinha, saudade da família, dos amigos, dos colegas de trabalho, saudade... saudade... saudade!!! Quer saber? É bom sentir... assim vejo o valor do coração expandido, da partilha das alegrias e da certeza que sempre terei com quem dividir os desafios e tristezas, que também fazem parte da VIDA!

Aprendizagens profundas para toda VIDA!!!

O dia de hoje foi muito intenso, profundo...não tem como sair intacta desta experiência. Tivemos um contato com o responsável de saúde e responsabilidade social... através de uma cortina de poeira, que era como uma bolha suspensa no ar, fomos entrando em contato com os dados de saúde do país. Assustador!!!!Doenças por baixa imunidade, doenças consequências das crenças e culturas de um povo (circuncisão que gera tétano, mutilação feminina que provoca mortes) ... isso exige romper com muitos dos conceitos que construimos sobre a transmissão da AIDS, HPV, cólera, malária e outras doenças. A grande maioria de contaminadas são as crianças e as mulheres, que sofrem pela cultura do país. 88% das crianças infectadas pela SIDA, no mundo estão na África, só em uma praça de Luanda tem 282 pontos de prostituição. Como orientar? O que fazer? Por onde começar? Como comunicar a uma mulher que ela não deve amamentar? O que dizer? Imaginem que Angola ainda foi "protegida" pela guerra, que fechou as fronteiras. No resto do continente a realidade é muito mais desafiadora!
O primeiro passo foi ter dados seguros e a empresa resolve identificar estes dados na própria organização. Abre um Centro de Aconselhamento voluntário e testagem, identifica uma realidade, forma agentes educadores e multiplicadores, acredita na força da palavra, da educação, do valor e do significado da informação. TEM UM LÍDER!!!!! E que líder! É alguém longe daquelas pessoas que se escondem de si mesmas e para o mundo... que tem uma cara para o dia e outra para a noite... Essa experiência é para mim um convite para ir fundo em si mesma, para romper com a vida previsível, intacta, igual e acreditar que é possível fazer a diferença... simplesmente deixar muito do que já passou para trás, ser desafiada e construir sempre novos começos, que podem significar VIDA BEM VIVIDA!!!!!

Tempo... tempo... tempo... tempo!!!!!

"O tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que não tem tempo para dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem".

Tempo... tempo... tempo... que inventou isso? Ele aqui voa, passa de forma acelerada nos dias úteis (já são 23 horas e estou aqui sem sono!!!!) e muito... muito... muito lento, nos finais de semana. Ontem foi difícil... faltou luz, água, ficamos sem internet e sem tv quase o dia todo! As janelas tem que ficar fechadas, é preciso ter todo o cuidado com a malária (o medo é grande!!!!) ... fui parar na cozinha e acabei batendo um bolo sem batedeira, coisa que eu não fazia a uns 20 anos. Boas memórias... é interessante despertar experiências lá do fundo da alma... lembrei tanto da minha mãe me ensinando a cozinhar! Por sorte saiu uma delícia!

Socorro do Lar!

Hoje a torneira e o chuveiro do meu banheiro quebraram... tivemos que chamar o serviço de reparos da empresa. Vieram Felipe e Jonas, e, lógico, aproveitei para conhecer um pouco mais da cultura local, hábitos e costumes do povo de Luanda, escutando-os. Perguntei sobre as danças dos angolanos e logo me falaram do cuduro e da quizomba, indicaram os cantores que estão fazendo SUCESSO no momento, inclusive no Brasil. Disseram que precisamos conhecer Yuri da Cunha, Maiacú e Matias Damásio, mas foram muito claros e afirmaram com todas as letras: é preciso praticar para aprender! Aproveitaram para nos convidar para a festa de final de ano na empresa. Vamos lá, é claro!!!!


Tenho visitado alguns lugares interessantes e curiosos, mas o que me fascina mesmo, é conversar com o povo, escutar suas histórias sobre a vida pós guerra, sobre o amanhã, e a luta do dia a dia. A perspectiva de vida aqui é de 40 a 45 anos, porisso querem viver o aqui e agora, sem planejar o amanhã. É um povo risonho, com o sorriso mais lindo do mundo!!! São alegres, mas também desconfiados, tentam entender a sua intenção, em toda e qualquer ação. Fiquei muito surpresa com o fato de se comunicarem muito bem oralmente, fazem questão de usar um vocabulário rebuscado, mas a impressão que tenho é que não compreendem muito bem o que estão falando. Incrível! O índice de analfabetismo é muito... muito alto e atuar aqui com formação e qualificação profissional é um desafio. Mas tem um dado interessante, são persistentes e querem aprender!!!

Lacuna...

Postagem prometida, postagem cumprida!!!
Hoje passamos o domingo em casa... foi um dia agradável, dia para curtir de dentro a experiência vivida, que somente está começando. Domingo bem diferente do passado, em que com avidez e muita curiosidade, desvendamos muitas histórias, realidades, situações novas, contrastes, o inusitado, o inesperado. É que naquele dia tinhamos como cicerone, Ruy Barreto, líder da nossa equipe, diretor da Futuros Consultoria. De fato a sua companhia faz a diferença, de aulas de história, sociologia, antropologia, política, economia, etc, etc... até piadas muito engraçadas que nos fazem rir sem parar.

Domingo: dia bom para ler, refletir e relaxar!

Acordamos cedo e decidimos que domingo é um bom dia para começar uma atividade física, nos comprometemos que vamos andar todos os dias! Esta foi uma boa ideia, pois assim que retornamos descobrimos que estávamos sem luz, água, TV e internet. Êita, o que fazer? Isso é muito comum por aqui, mas nos outros dias, com o ritmo de trabalho intenso, nem nos demos conta do impacto desta realidade. E agora?
Aproveitei para ler, viajar para o início do século passado com Miguel Souza Tavares, com o Romance EQUADOR (em breve posto sobre ele).
Com a leitura, várias reflexões sobre o significado da vida, da busca incessante pela minha essencial, apesar de ter claro que a minha existência não é e nunca foi, marcada pela vida rotineira e previsível. Gosto de realizar, das ações que dão a sensação de dever cumprido, de ter feito algo, por menor que seja, pelo outro, para o bem comum. É por isso, que mesmo, em pleno domingo, longe da família e de todos que quero bem, afirmo e reafirmo, estou adorando esta experiência e que venham muitos outros domingos!

Vivendo e convivendo...

São muitas as aprendizagens que temos construido a cada dia e, uma das mais importantes para mim, é a do convívio saudável, do respeito ao outro, da partilha, da troca, do reconhecimento da identidade indivudual, as manias e características de cada um e, a construção de uma identidade coletiva. Que alegria tive de vir a Luanda com um grupo de amigas! Isso tem feito a diferença! Muito naturalmente temos feitos acordos e estamos funcionando bem. Cada uma com seu papel, do meu ponto de vista, bastante complementares... Ah, o que seria de mim e de Soraya, se não tivessemos Imária para cozinhar, nos finais de semana!!!! É bem verdade que Soraya varre a casa e eu lavo os pratos.

Aqui estávamos de saída ontem à noite para um aniversário de uma nova amiga!

O inusitado...

Aqui em Luanda, toda hora me deparo com algo novo, surpreendente. Desta vez, a postagem é uma homenagem as mulheres, donas de casa, ou aquelas que cuidam das nossas casas. (Oh Nóe que saudade grande eu sinto de você!!!). Imaginem que em meio a toda adversidade no país, aqui encontro objetos que ainda não tinha visto em nenhuma outra parte do mundo. Confira você mesmo!!!!

DVD - Menino do Bié

Hoje comprei este DVD e estou fascinada. Ele conta a  história da comunidade de um jovem cantor, artista, Pedrito do Bié, de 17 anos, e portador de uma deficiência de hormônio de crescimento, que conquistou o sucesso contando a vida e os seus desafios. É o resgate da história de um menino que fugiu da guerra, saindo de uma situação bastante adversa, e que conseguiu superar inúmeras limitações para tornar-se hoje conhecido em todo o país pelo seu trabalho musical. Este material foi produzido por um brasileiro, Marcelo Luna. Vale a pena conferir!!!

No DVD tem uma música que retrata a educação em Angola que diz assim: "Professora, bate muito... quando eu reclamo, ela diz que eu não estudo. Eu agora, vou estudando, para ser, o melhor da sala. Mesmo assim, eu estudando, há dias que me bate demais!!!" Você pode conferir no you tube.

Mulheres... seres especiais!

Ah... como são interessantes as mulheres!!!
Foi tão diferente entrevistá-las hoje, escutar as suas impressões sobre a vida, o amanhã, a família, o trabalho, as conquistas, as vitórias. São leves! Estão sempre com um sorriso no rosto e acreditam na VIDA! Lutam, correm atrás, vão em busca! Estas 4 mulheres estão muito orgulhosas porque conquistaram funções que na maioria das vezes são ocupadas pelos homens. Mudança social à vista!!!!
Vamos acompanhar!

Posto de gasolina

As imagens falam mais do que qualquer palavras. Este posto de combustível tem por todos os lados da cidade. Daquele que estamos acostumados a abastecer os nossos carros no Brasil, existem poucos e para encher o tanque, espera-se mais ou menos 2 horas. Vida louca, já nos dizia Cazuza.

Mulher angolana sofre com o machismo

O machismo aqui é muito forte, as mulheres sofrem com a dependência econômica dos maridos, com o desemprego e uma cultura que privilegia os homens. É difícil acreditar, mas toda sexta-feira é dia dos homens! Muitas saem do trabalho e só retornam para casa no domingo. É cultural ter mais de uma mulher!
São muitas as informações que temos recebido sobre este tema e leva tempo para acreditar, imaginem que a grande maioria dos homens batem nas mulheres (é a chamada chapada!!!!) Quanto mais baixo o nível cultural mais frequente são os casos de violência doméstica. Catarina, a mulher que trabalha na limpeza na nossa casa, nos contou hoje pela manhã que tem 23 anos e uma filha de 4 anos e que está separada, porque não aguentava mais apanhar. Os motivos eram geralmente a bebida ou o fato dela não ter feito algo, como por exemplo, colocar o jantar na mesa. Êita mundo louco e complicado!!!! E eu, com a minha sindrome de professora, vou logo dizendo: "Catarina, você pode mudar esta situação, fazendo a sua parte, educando seus filhos para serem cuidadosos, amorosos e respeitosos com as mulheres. Em mulher não se bate nem com uma flor, só os covardes!!!!!" Em breve vou postar uma foto com Catarina! Ela é uma figura!!!!

Um pouco de pesquisa e história para conhecer a realidade e seu povo.

Angola foi descoberta 18 anos antes do Brasil, mas o início da sua colonização só aconteceu depois de 29 anos, em 1559, sendo colônia portuguesa até o ano de 1975. Neste ano Angola tem a sua independência e toma posse, o presidente, Agostinho Neto, representante do Socialismo. (Portugal sem recursos, começa a afundar).
Em 1978, morre Agostinho e assume, José Eduardo dos Santos que está no governo até os dias atuais, atravessando uma guerra de 1992 até 2002. São mais de 30 anos no poder. Segundo, Ruy, nosso professor, de história, geografia, antropologia, sociologia, etc... etc..., esta longa permanência no poder, deveu-se ao modelo emblemático da figura do REI, no continente africano.
Em 2008 há uma nova eleição para o Parlamento que deverá preparar as eleições presidenciais em 2011. O que será quem vem pela frente???
Enquanto isso...
A realidade é um grande desafio!!!!
Toda esta história para contar que ontem passamos o dia entrevistando trabalhadores e conhecendo um pouco mais do perfil deste povo, que será o foco da nossa ação pedagógica. Incrível!!!! Falam muito bem... com desenvoltura e expressividade, mas muitos não sabem nem ler, nem escrever... Desejam aprender, são curiosos e muito interessados, mas não tem como voltar a estudar... No país não tem salário mínimo e a maioria está desempregada ou no mercado informal... vendem gasolina em garrafas nas estradas...vivem uma realidade de miséria e caminham sem saber para onde.

Diálogos com Angolanos

O dia de hoje foi marcado por uma maior aproximação com os angolanos, passamos o dia entrevistando trabalhadores nacionais para conhecermos o seu perfil. É difícil traduzir em palavras as descobertas que fizemos com esta interlocução. Desde os nomes e sobrenomes (muitos tem 3, 4 nomes e estes são nomes de família - João José Francisco Manoel, até a quantidade de fillhos, 3 ou 4, por jovens de 22/23 anos (que já não tem seus pais, pois morreram na guerra) passando pelos endereços, todos são casas s/nº. É claro que muitas destas características fizeram-me lembrar do Brasil, da Bahia, da Salvador, do Alto de Coutos.

 Um outro aspecto interessante,  são as palavras e seus significados. Eles falam o nosso idioma, mas com características bem próprias e influências dos variados idiomas que também são falados neste país.

GLOSSÁRIO

Avilo ou dikamba: Amigo
Bazar: Ir embora, vazar (gíria)
Bué: Muito
Chuimga: Chiclete
Cubico: Casa, quarto
Fino: Chopp
Garina: Garota
Gasosa: Refrigerante
Geleira: Geladeira
Ginga: Bicicleta
Iá: Sim
Kandongueiro: Táxi, lotação
Kazucuteiro: Preguiçoso
Kumbu: Dinheiro
Machimbombo: Ônibus
Matabicho: Café da manhã
Musseque: Favela
Raias: Óculos de Sol
Salo: Trabalho
Sanita: Sanitário

Em tempo: A reforma ortográfica não é uma realidade por aqui!!!!!!

Da janela lateral...

"Da janela lateral do quarto de dormir

Vejo uma igreja, um sinal de glória

Vejo um muro branco e um vôo pássaro

Vejo uma grade e um velho sinal

Menssageiro natural de coisas naturais
Quando eu falava dessas cores mórbidas

Quando eu falava desses homens sórdidos

Quando eu falava desse temporal".




"Cavaleiro marginal lavado em ribeirão

Cavaleiro negro que viveu mistérios
Caveleiro e senhor de casa e árvore
Sem querer descanso nem dominical
Cavaleiro marginal banhado em ribeirão
Conheci as torres e os cemitérios
Conheci os homens e os seus velórios
Quando olhava da janela lateral
Do quarto de dormir".

Estamos vivendo intensamente cada dia e, passo a passo, vamos nos ambientando neste novo contexto. Algumas situações são difíceis de serem elaboradas e a maior delas, é a enorme contradição entre o crescimento do país e a realidade em que vive a grande maioria da população. Para entender melhor esta situação nos apresentaram vários relatos sobre higiene - uma mulher encheu uma bacia de água, deu banho no primeiro filho, depois no segundo e logo depois, no terceiro, em seguida, lavou os pratos!!!! Fiquei chocada, então me foi dito que orientasse a pessoa que arruma o apartamento que estamos vivendo, a usar princípios de higiene, pois é comum usar o mesmo pano na cozinha e no banheiro ou lavar o vaso sanitário com as próprias mãos, sem luvas. Fiquei sem palavras!!!

Imbondeiro - árvore sagrada da África

Um dos símbolos da África recebe o nome de Imbondeiro. Trata-se de uma árvore grande, bela e imponente. Hoje visitamos uma floresta dela... é quase surreal!!!! Tem vezes que dá a impressão que estão de cabeça para baixo e os galhos são suas raizes.
Esta árvore marca a paisagem árida e remete a outros significados, cercado de aspectos lendários. Em vários momentos, me senti em um conto de terror!!! Mas esta beleza da natureza, não está presente só no pensamento africano, é a àrvore do Pequeno Princípe! É claro, que diante de tantas referências, fiz o ritual de abraça-la e receber toda a sua energia.

Marcas de uma realidade!

É incrível, mas é a pura verdade... as duas imagens são de Luanda: uma, a mulher angolana, que cuida do filho amarrado a si, enquanto lava as roupas da casa; a outra uma marina na Ilha do Cabo. Como gerar uma convivência entre essas desigualdades, para nascer um novo mundo?

As primeiras impressões...

Luanda é a capital do país, tem 5 milhões de habitantes e uma realidade muito desigual! Está em pleno crescimento econômico e social, e a sensação que dá, é que é um grande canteiro de obras. Desde que chegamos temos escutado diferentes pessoas e um dos relatos que mais chamou a nossa atenção, foi de uma funcionária brasileira que nos disse que os angolanos vivem o aqui e agora plenamente, porque não cultivam a esperança do amanhã devido a perspectiva de vida ser de mais ou menos 40 anos. São muito festeiros e gastam tudo que ganham. Que loucura não reconhecer a vida numa perspectiva perene!
Olhando o pôr do sol, de imediato lembrei das nossas raizes, dos africanos que cruzaram o oceano há mais ou menos 1.500 anos para trabalhar como escravos na nossa terra! É duro escutar que até os dias atuais muitos vivem aqui em condições semelhantes. O que podemos fazer? Eu estou convencida que educação é o caminho! Vamos que vamos!

Chegada em Angola - o exercício do olhar relativo!

Depois de 10 horas de voo no "Bodão" - forma que os brasileiros chamam a empresa aerea que faz a linha Brasil - Angola - chegamos em Luanda, na manhã do dia 15. Tínhamos escutando todo tipo de história sobre os aviões e o pessoal de bordo. No mínino nos contaram que lá só encontrariamos "aerovelhas" e um serviço de péssimo atendimento. A viagem foi ótima e nada daquilo que esperávamos aconteceu, de imediato refleti sobre o valor do exercício do olhar relativo, ah como tudo depende de como a gente vê!!! Estávamos aberta ao novo e acreditando no SUCESSO de cada passo dado.

Receptivo tranquilo, emigração no mesmo ritmo da entrada em qualquer país, com filas enormes, malas demorando de aparecer nas esteiras... O pessoal da empresa já estava nos esperando, um trânsito, caótico na cidade, e de "viatura", como os angolanos chamam qualquer carro, entupida de brasileiros, fomos passando por cada canto da cidade até chegar no nosso condomínio.  Fomos as últimas do roteiro e "Cubano", o motorista, não parava de falar um só minuto, só mais tarde entendi o motivo, que era a ansiedade de nos ajudar a levar as malas para o apartamento, 6 volumes pessadíssimos, para o terceiro andar. Êita que mulher é um bicho surpreendente!

Pela janela da van, imagens e mais imagens, de um mundo real, que ia se desenhando à nossa frente com cores, odores, gestos e marcas de um povo que quero conhecer a fundo e compreender a sua história e trajetória na VIDA. Teremos 60 dias para muitas descobertas!!!!

Aeroporto de Guarulhos

Faltam poucos minutos para embarcar para Angola. É claro que uma pergunta não sai da minha cabeça: o que vamos encontrar por lá? Ruy Barreto (coordenador do projeto) já nos ligou e nos informou onde vamos morar – Condominio Vale dos Pássaros, Edf. Pelicanos. Já me identifiquei de imediato, ave, voo, leveza... É claro, que imagino que o ritmo de trabalho lá será acelerado, já recebemos todos os sinais neste sentido. Tranquilo... Viver esta experiência foi uma escolha!

Viagem confirmada! Amanhã as 10 embarcamos...

Chegou a hora... coração batendo forte, mãos suando, expectativa em alta, saudade batendo a porta! Sim.. vamos..., vamos porque acreditamos que é possível e preciso fazer a nossa parte, contribuir para conquistar vidas mais dignas para todos, em toda parte!

Angola estamos chegando!!!

Homenagem às crianças e professores do Brasil e de Angola

Meus pais, meus eternos professores e as crianças que me ensinam todos os dias o encanto e a beleza da VIDA!

Equipe de trabalho

Em pleno feriado no Brasil, reunidas trabalhando e projetando o que está por vir.

Como serão nossos domingos em Luanda?

"Hoje é domingo, pede cachimbo


o cachimbo é de ouro, bate no touro

o touro é valente, bate na gente

a gente é fraco, cai no buraco

o buraco é fundo, acaba-se o mundo!"

Domingo, dia de descanso... de ficar de bobeira... pensando na vida, no ócio criativo!
Próximo domingo estaremos em Luanda!

Rompendo fronteiras e dialogando com o mundo - Indicações de DVDs

Essas duas produções chegaram as minhas mãos e me convocaram para uma reflexão: o valor e o significado do diálogo entre nações, povos, suas manifestações e tradições para construção de um novo mundo, um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno, sensível e igual.

A primeira produção foi feita por crianças de 10 anos da Escola Nova Nossa Infância, que documentaram os resultados de uma investigação para compreender - Por que Salvador é a capital mais negra do Brasil? e a segunda, por professores do Grupo Humanas, com o firme propósito de compartilhar a realidade do continente Africano a partir de um olhar de indignação, inquietação, respeito e valorização aos nossos ancestrais. Esses materiais são indicadores de que é possível e preciso fazer uma educação diferente e de qualidade nas nossas Escolas. Parabéns aos responsáveis!

Novas demandas... um novo tempo de espera!

Ontem, eu, Soraya e Imária (amigas que vão enfrentar junto comigo esta "aventura") recebemos a informação que possivelmente viajariamos amanhã pela manhã. Mais um dia com a família e de novas despedidas, um dia também para finalização das malas, checagem das listas do que levar, conclusão dos materias em fase de sistematização..., enfim tudo que ainda estava pendente!
De uma hora para outra, muda tudo, mais uma vez. Ao meio dia recebemos a informação que tinhamos uma "série" de exames para providenciar... e lá fomos nós... não almoçamos e corremos atrás da família e de amigos para conseguir realizar todos os exames, em uma tarde de sexta-feira, final de semana prolongado na Bahia! Grande desafio! Conseguimos! O que era quase impossível foi alcançado! Tudo pronto. Chegamos em casa felizes, programando os dias seguintes com segurança. Grande ilusão, bastou abrir o e-mail e encontrar uma lista com exames que ainda precisavam ser providenciados. Amanhã começa tudo de novo e com o novo dia, um convite para um novo tempo de espera. Quando vamos? Tudo indica que na próxima quarta-feira!

Rituais de passagem... sinais que apoiam as mudanças!!!

Uns trocam de idade, outros de trabalho e casa, outros de país... outros, como eu, trocam tudo isso de uma só vez! É claro que a expectativa é grande, mas se soubermos observar com atenção, sensibilidade e cuidado, são muitos os sinais que aparecem e ajudam a elaborar esta experiência com tranquilidade e otimismo. O sinal que mais tem chamado a atenção é o da instabilidade em relação ao tempo. Ainda não temos data confirmada para viajar, pode ser amanhã ou sábado. Lidar com o inesperado, o imprevisível e o não planejado faz parte do movimento da VIDA, eu diria mais, permite entender melhor que o amanhã é muito mais marcado pelas incertezas do que pela ilusão do controle.

Despedida, dia de partida e sinais de uma realidade local!

Quase todos os dias alguém me procura querendo confirmar o dia da minha ida de fato para Angola.  A verdade é que ainda não sei... já fiz a despedida, deixei a mala pronta, já estou com a cabeça no trabalho de lá, mas ainda estou esperando a informação com a da data de partida. É claro que esta situação me permite entender um pouco mais do país, seus ritmos e modos de lidar com as questões do dia a dia. A realidade é bem diferente da nossa! A expectativa de conhecer de perto o que lhe caracteriza é a maior ansiedade do momento.
Há um sinal de que a partida pode acontecer no sábado, dia 10. Vamos esperar!

O olhar de uma criança!

Faz mais ou menos 3 anos qe fui pela primeira vez, com Maria Eduarda (minha neta, na época com 2 anos e pouco) visitar o Museu Nautico da Bahia, no Farol da Barra. Lembro-me bem do seu encanto por cada descoberta. Hoje, não me sai da memória o momento em que viu esta réplica de um navio negreiro. e de imediato olhou e disse: - Vovó deste eu não gostei. Tire uma foto qe vou mostrar a minha mãe. Quem fez isso com eles?
Agora que vou conhecer mais de perto a realidade dos africanos, que também dominados pelo portugueses, sofreram com a escravidão, vem um turbilhão de muitas ideias, sentimentos e desejos de ações. Assumo o compromisso de fazer a minha parte!
É claro que nesta hora fico me perguntando: por que até nos dias atuais  tem seres humanos que escavizam outros? Como podemos conquistas relações humanas saudáveis e produtivas para o bem da coletividade? Para mim, o caminho é a educação, mas aquela que nos ensinou Paulo Freire, a que liberta, respeita as diferenças, luta pela justiça e igualdade.

"Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças..."
                                                                  Fernando Pessoa

Um novo presente

Vivendo os processos de passagem da mudança para Angola por um tempo, ganhei de Priscilla Gordilho, professora da NI, este livro fantástico. Obrigada Pri! Adorei! Ricardi Dreguer, autor do livro, nos convida a conhecer muitas das raizes do Brasil e dos brasileiros. Ah como esses conhecimentos são valiosos para cada pessoa fazer suas escolhas e atuar no mundo!

A leitura do livro me fez pensar profundamente em um objetivo forte da minha vida pessoal e profissional: a defesa da cultura da infância no mundo. Educação é para mim o caminho para uma vida plena, é portanto descoberta, construção e produção de conhecimento e de cultura. Quero fazer desta minha experiência em Luanda, uma possibilidade para que muitos aprendam com os nossos antepassados e deta maneira, façam escolhas conscientes para construir o futuro.