“Tudo que a gente faz na vida, ecoa na humanidade e na eternidade”.
Na semana passada tive o privilégio de participar de um ritual de iniciação de uma menina do grupo social macua, em Moçambique. Com vestimentas típicas, muita dança e batuques, as mais velhas comunicaram, para além das palavras, o universo e os contornos da VIDA adulta feminina.
Uma oportunidade sem igual para viver com intensidade o significado de pertença a um grupo, a uma sociedade, a uma cultura. Um convite à reflexão sobre o feminino, sua complexidade, seu jeito de agir e reagir, sua sensibilidade e alegria, sua forma de celebrar a vida e cultivar a magia de ser mulher.
Os diferentes momentos marcados por vários símbolos (capulanas, missangas, pano branco, moedas, balas e comidas) deram legitimidade as mudanças já sentidas no corpo, que transformam a menina em mulher. Como convidada pensei o tempo todo sobre o valor de olharmos as nossas identidades e fazermos escolhas, remetendo-nos para uma condição que tem como ponto inicial a diferenciação sexual de natureza biológica, que nos configura como mulheres e homens.
Lembrei dos ritos presentes na minha trajetória de vida, comparei com a festa de 15 anos que no nosso contexto social também marca a passagem da infância para a idade adulta, quando rompe-se com a espontaneidade da meninice e brinda-se com 15 amigas a chegada na vida de “gente grande”. É o alerta para um novo tempo, uma nova dinâmica que tem um tom ou outro, que pode perpetuar ou transformar os modelos, a partir dos encontros e desencontros, das escolhas que são feitas ou não.
A coletividade ganha força nesta hora, com outras mulheres podemos manter ou provocar a mudança do que está estruturado na sociedade por um grande aparato material e simbólico que nos "dizem" quem devemos ser, o que fazer, o que é lícito ou não, o que pensar, falar e experienciar.
Acompanhar mais de 100 mulheres juntas, em um imaginário coletivo, vivendo a sua sensualidade e descoberta autorizada da sexualidade, me convocou a pensar no significado de ser mulher no mundo de hoje e na importância dos ritos que marcam o movimento do mundo.
Vi a beleza do sagrado, secreto e de partilha, o valor da cumplicidade e a importância do coletivo. Constatei que vale a pena viver plenamente a VIDA e preservar cada vez mais o que nos pertence, nos faz mulher, nos dá encanto e muita magia. Roda mundo, roda vida, mas preserve o que nos caracteriza, nos dá identidade e a esperança de ver para sempre o encanto das diferenças entre as mulheres e os homens!
2 comentários:
Na roda do mundo... No mundo a roda.
Peço licença para parafrasear o título de autoria de minha amiga querida.
Quem entra com respeito em cada roda do mundo e sabe escutar os seus ensinamentos sai embevecidos do quanto somos diversos em cada singularidade cultural.
A maneira como cada um lida com o seu corpo, sua feminilidade e a chegada a adultez comunica valores e crenças que entram em diálogo com o nosso acervo de referência e nos convida a reflexão sobre a vida e seus muitos sentidos!
Fiquei pensando em como a roda, essa interação circular,faz girar e preservar essa cultura... Em como uma roda feminina, com seus encantos segredados e ensinamentos marcam a vida dos que vivem essa experiência.
Entrar nesta roda do mundo através do seu olhar e escutar a sua voz, é uma possibilidade, Marilia, de fazer a roda girar em mim mesma para me entender como mulher, como mãe, como pessoa que traz uma ancestralidade, uma herança cultural que influencia e é influenciada e por isso mesmo é viva, é vida.
Parabéns pela reflexão!
É vida bem vivida, amiga!
Vida com sentido...
Vida de quem sabe o que quer!
Vida que está conectada com outras VIDAS...
Vida que só tem sentindo se for mais, alé, se superar limites, se ACREDITAR nas mudanças,
se viver... viver plenamente a nossa porção mulher, a nossa vibração, o nosso pulsar, a nossa alegria, a nossa descoberta, o permanente desabrochar!
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