sábado, 25 de setembro de 2010

As crianças e as Escolas em Angola

Que escolas temos oferecido as nossas crianças?

 
"Mas sonhar é coisa que não se ensina. Brota das profundezas do corpo, como a água brota das profundezas da terra...". "Conte-me os seus sonhos, para que sonhemos juntos!"
Rubem Alves




Todos os dias saio de casa as 7 horas para o trabalho e no percurso de 20 km, sempre encontro muitas crianças indo a escola carregando seu banquinho nas mãos. Esta imagem provoca em mim reflexões e memórias... lembro-me de imediato dos relatos da minha mãe e do meu pai, quando na infância iam a escola, era um privilégio para poucos... Lembro-me também do dia em que visitei uma escola em Luanda, no início do ano e as crianças nos receberam ficando de pé e cantando uma música memorizada, todos no mesmo tom, em uma só voz... Marcas de excessivo controle! Lembro-me ainda dos relatos de alguns colegas que tem filhos em escolas internacionais aqui neste país... escolas de tempo integral, bilingue e atenta a diversidade. Reflito sobre o tempo, os diferentes espaços e a desigualdade social. Penso nas contradições e nas possíveis formas de superação. Reflito o meu papel de educadora... Quero atuar neste contexto!
Procuro conversar com pessoas diversas para compreender um pouco mais esta realidade e o significado dela na vida dos meninos e meninas de Angola. No país ainda não tem escola para todos, são muitas crianças em cada sala de aula, o ensino é conservador, tradicional, não tem distribuição de merenda e os materiais didáticos são quase inexistentes. São muitas crianças no mundo sem escolas e a metade delas estão na África.
Um pai de 3 filhos que conversei aqui em Angola, me disse que as escolas não são boas, mas as crianças tem que ir a escola para aprender e que a professora   tem o direito de bater, puxar o orelha, dar uns cascudos,  se a criança não prestar atenção.  "É a oportunidade de crescer na vida!"                          
Este depoimento e a realidade existentes me fazem crer que é preciso construir em diálogos com todos os atores sociais, uma reflexão da Escola como espaço de VIDA, que é construída e permanentemente reconstruída com base nas escolhas, nos desejos, na ousadia, na criatividade, na vontade e na ação política de pessoas comprometidas com a educação do presente e do futuro, com a sociedade de hoje e de amanhã, com a vida bem vivida para todos e todas SEMPRE! Todos são co-responsáveis! Enquanto houver no mundo uma criança que não tenha vida dígna, não podemos descansar e ser felizes! Vamos SONHAR e fazer!

3 comentários:

Anônimo disse...

Marília,
fiquei muito sensibilizada com este seu depoimento.Fico imaginando o quanto ainda temos que nos mobilizar para tocar nas pessoas quanto a garantia dos direitos das nossas crianças.As desigualdades ainda são inúmeras:um grande desafio para nós educadores.Mas a vale a pena alimentarmos o sonho de que nossa luta não é , e não será em vão.Para alguns já conseguimos ver conquistas e estas conquistas se multiplicarão no decorrer da nossa jornada.
bjs

PATRICIA BARRAL

Marilia Dourado disse...

Paty,
na nossa utopia do fragmento, vamos fazendo a noss parte e cultivando sonhos! Obrigada por compartilhar comigo muitos sonhos!

Luciene Tavares disse...

Acho que esquecemos que existem muitas realidades e ficamos presos a nossa.
Foi muito bom ler parte do seu diário, me fez pensar que posso fazer ainda mais por meus alunos já que as condições que tenho são incomparavelmente melhor.
Claro que nem por isso deixarei de reivindicar que a situação na escola municipal de Salvador melhore, pois temos várias questões que com um pouco de vontade política seriam resolvidas.
Beijos e saudades